Campeã assediada no pódio da Copa do Mundo

Reprodução/Twitter

No maior palco do futebol feminino mundial, uma mulher foi gravemente assediada. Sem seu consentimento, um homem a segurou pela cabeça e a beijou. Na boca. Ele distribuiu beijos e abraços efusivos, inclusive a um homem. Mas aquela foi a única pessoa que ele beijou na boca.

Diante de câmeras e centenas de milhões de pessoas no planeta todo. Aparentemente, sem qualquer tipo de preocupação.

O homem: o presidente da Federação Espanhola de Futebol, Luís Rubiales. A mulher: a capitã da seleção espanhola e campeã do mundo, Jenni Hermoso.

Ainda no vestiário, ela disse em uma live que não tinha gostado.

Ele, em mais uma edição da desculpa meia-boca do macho empoderado, declarou: “Certamente me equivoquei, tenho que admitir. Foi sem má-fé, em um momento de máxima efusividade. Aqui [na Espanha] vemos isso de forma natural, mas lá fora se formou uma comoção. Tenho que me desculpar, aprender com isso e entender que, quando se é presidente, há de se ter mais cuidado.”

Passada a náusea, preciso comentar: o problema não é cultural. A misoginia é um dos elementos compartilhados, em maior ou menor medida, por todos os países. Como um grande congraçamento dos machistas imperturbados.

Não, senhor Rubiales, não há de se ter cuidado por ser presidente. Há de se respeitar os corpos de todas e todos. O fato de se tratar ali de jogadoras (mulheres) não lhe dava essa abertura para ser “efusivo”.

Como presidente, já lhe coube a prerrogativa de ignorar as denúncias de uma dúzia de atletas contra o treinador Jorge Vilda, por assédio moral e psicológico. As jogadoras que decidiram participar do Mundial, atuaram, deitaram em campo e levantaram a taça apesar dele. Porque você, Rubiales, não achou que a opinião delas importava.

O episódio só comprova o que toda mulher sente nos ossos: nossa integridade física, moral e psicológica nunca estará garantida. Nada intimida o assediador. Nem o status da mulher nem os olhares do mundo inteiro.

A gente também tem plena consciência do nosso potencial. O potencial de vencer apesar destes homens. De atingir o topo mesmo com obstáculos grotescos pelo caminho.
O duro é que a gente também sabe o custo disso tudo. O desgaste diário e desnecessário de viver com a guarda levantada. Uma energia que nos consome, constrange, violenta e emputece.

Uma energia que poderia estar direcionada para o nosso próprio sucesso, a manutenção de nossa saúde mental, ou mesmo uma pitada de ócio. De paz.
Mas não temos descanso. Nunca.

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